quarta-feira, agosto 31, 2005 ---

CONSTANTINOPLA



Os vestidos que se vestem aqui são sempre os mesmos. Até os joelhos, largos, brancos e retos. Fica difícil distinguir o que são peitos, o que são curvas. Exceto pelo pequeno corte nas costas, um cordão a amarrar do próprio tecido de algodão já puído. E ontem fiz exercício de memória. Daqueles em que colocam bem à sua frente uma porção de cartões grandes com figuras coloridas. Não consegui sequer adivinhar onde estava o maldito desenho do guarda-chuva. Mas lembrei da chuva a cair lá fora. A mesma de tempos atrás. Aquela que mamãe dizia ser quase um transtorno às mães cativas e desesperadas, a combaterem em seus filhos pequenas tosses nocivas, glândulas inchadas e secreções a ponto de amarelar os lenços. Minha memória anda retroativa. A mesma, que te faz ficar dentro de casa, a olhar pela janela e dizer sem qualquer temor, que as minhas palavras são capazes de te provocar um vazio fulminante. Ora, não venha me culpar pela tua falta de sentidos, nem mesmo me agradeça pelos empréstimos prestados. Sim, empréstimos. Porque não provoco nada de graça. Quero retorno. Sempre. Como você bem disse. Já aqui, foi construída uma muralha. Nosso grande império bizantino. Ninguém fere e sai ileso. Nem muito apunhala pelas costas. Se quer mesmo me meter esse punhal, construído pra mim sob medida, que seja botando a tua retina na minha enquanto eu gozo. Meu ego te subestima? Te surpreende? Pois sim, na próxima visita, me traga um espelho de presente.
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OBS: DONA ESTULTÍCIA ANDA BRINCANDO DE SE CORRESPONDER COM ALGUÉM DO QUARTO AO LADO: www.quartointeiro.blogspot.com


3:28 PM -

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