No quarto, só no quarto, é que o amor precede o medo. Em alas desapercebidas, nas coxias, nas camas altas, no chão, no silêncio. Entre as cortinas, no pisar dos tacos, é amor ou medo? Dá no mesmo. Quatro silabas e um paradoxo imenso. Dicotomias para serem soletradas quase em mantras e quem sabe em alguma volta incerta, em algum mictório, em algum altar, em algum beco. Mas por hora, silêncio! O espetáculo vai começar em um único ato, num tiro certeiro:
ABREM-SE AS CORTINAS
Álcool, palavras, tapas, saliva, dedos, tapas, quem sabe um comprimido, palavras, a catequese e o medo. O arfar, mais palavras, mais tapas, o revide, o grande salto e o medo. A boca, a língua, a baba, as lágrimas, o riso e o medo. A falha, a raiva, o revide, o tapa e o esquecimento. O pesar, o corpo, o peso, do corpo, sobre o corpo, o arrependimento. A desculpa, a ironia, o cansaço, o desleixo, a falha, a boca, os dedos.