sexta-feira, setembro 30, 2005 ---

ENTRE ESPASMOS
- UMA TRILOGIA -

I - O TEMPO QUE PRECEDE A NÁUSEA (primeira parte)


Daqui da beirada dá pra ver que não há mais volta. Entre um contorno e outro da mão espalmada nos lugares mais infectos, achou-se por fim seus lugares fecundos. O amor na sua mais extensa e vasta improbabilidade. Porque o amor é isso. Tem gosto de sal diluído. Tem provas de existência nos pêlos da língua, que só quem ama é capaz de ver. E de se esvair em cantinhos secretos, rodopiar nas veias profundas e pedir socorro querendo de fato que o socorro chegue nunca. Besteira! Eu tenho saliva de sobra, aos montes, aos tantos, aos turbilhões. Estou no cio pra quem quiser comer, sem que saibam, porém que é somente isso que vão ter. O resto, a parte toda dessas entranhas, que se reviram inteiras só de olhar para você, essas a partir de agora, são rés confessas de que estão te amando com toda dor nas ancas, com toda cor que sangra a cometer todo e qualquer desatino com a alcunha de uma dona, a assinar com as próprias unhas, qualquer papel em branco.

Dona suja, sujeita disforme, pronta pra desferir veredictos, para subornar sentimentos alheios, na remenda das promiscuidades. Rata das frestas, coisa que não presta, dona de caixões ilusórios repletos de vermes invisíveis a cortejá-la. Atiradora de pedras, crucificadora de sujeitinhos vis, comedora de verbos intransitivos diretos. Nas vísceras. Pobre coitada a devorar ladrilhos, a cultuar latrinas, a posar de santa com um prego enfiado na xota. E agora me pego aqui inteira, a sujar as minhas meias, me arrastando como um moleira nesse chão salpicado de tantos vícios. A te oferecer ainda a partir desse exato momento, meu pescoço pra essa tua corda frouxa. Só não a deixe tão solta, que assim eu posso sangrar. Perdão, eu não sei perdoar.
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Declarações, veredictos e fatos distorcidos para esse senhor: www.quartointeiro.blogspot.com


5:34 PM -

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