Atrás de cada sílaba dessa o voyeur brinca de charadas. Com seus falos intermináveis não quer saber de psicologias. Sim, são paus, cabos de guarda-chuvas, espadas, cabos óticos e lunetas. Uma orgia tempestuosa. Simbólica. Prolixa. Pouco didática. Os doutores diriam tratar-se de fetiche. Dariam-lhe prováveis pílulas coloridas. E eu? Bem, eu talvez lhe dê o que na verdade ele me pede. Nessas tantas entrelinhas. Uma pequena dose de atenção, uma viagem enciclopédica e uma grande fenda à parte. Para dizer afinal que sou implicante. Sem réplicas.
Pois bem meu senhor, hoje aqui é dia de folga. Nos deram o dia de presente para que pudéssemos nos banhar em sol, pátio aceso e gentes por todas as partes. Vou me recolher para que possas me observar sem qualquer tipo de intervenção. Para que eu possa ainda ocupar o lugar de templo intacto, nessa imaculada orgia textual. Enquanto os pobres lá no pátio gritam numa felicidade medíocre, eu continuo a erguer os tijolos, não sem antes lhe provocar com uma fenda verborrágica da boca até a xota: quantas vísceras aqui você é capaz de ver? A te impregnarem com tantas figuras de linguagem. Rasgar os verbos que na minha língua serão sempre imperativos. Para te oferecer em troca, ou quem sabe ainda te dar de presente, a minha cabeça numa bandeja de prata. Pois sim, essa é a recompensa: uma das minhas seis entradas, na mira exata da tua luneta. De coisas pequenas. Os detalhes nunca são amenos, embora aqui, eles sejam quase dantescos. Já levaram muita gente para o inferno, enquanto outros continuam em suspenso. Um triciclo acaba de cruzar o corredor anunciando que a invasão deve começar logo mais, embora os malditos sempre comessem pelo pátio. Já fui poupada em outros tempos. E agora, só me resta a espera pelos três dias de fúria. A serem pagos com um saco de moedas, ou quem sabe ainda com um bom tecido de algodão entre as pernas.