quinta-feira, março 02, 2006 ---


CARNAVAL II


Cama é avenida para transeuntes desavisados. Um rebolar de afagos, dança sem coreografia. Confete e serpentina celebram os amores das tragédias finas, baile de máscaras, bota a fantasia que o hoje é sempre. Agora, nunca.



- Vamos ter um filho?

- O quê?

- É, um filho...

- Não acho que essa seja a hora e nem o lugar

- Quer lugar melhor do que em cima da sua cama?

- Por isso mesmo. É óbvio e excessivamente tendencioso...

- Se eu pedir, você faz isso por mim?

- Isso o quê?

- Um filho. Eu quero muito ter um filho com você. Como você, assim, com esse seu gênio difícil, essa sua cara linda, e uma curiosidade imensa sobre as coisas e... Você está rindo de quê?!

- De você

- E por que tanta graça?

- Porque você não quer um filho, você me quer por um tempo extenso...

- Estou falando sério Ligia...

- Eu também. Já notou que tudo entre a gente acaba em tragédia?

- Ora, não vejo tragédia em querer ter um filho com você.

- Mas eu vejo. Primeiro essa relação incestuosa de filhos, de mim. Depois não gosto de me ver como algo que não tenha um fim, entende? Que vá me prender por dias, meses, anos... Não te dá medo não?

- Você é estranha sabia? E confesso que gosto de você exatamente desse jeito. Sempre.

- A tua exatidão não combina com o meu pra sempre...

- Você e suas filosofias.

- Você e suas fantasias...Soa clichê?

- Irônico. Soa irônico. Uma certa crueldade que combina com você.

- Sempre. É por isso que eu digo: não tem razão de ser. É viagem errada, trip nervosa mesmo, festa que acaba cedo porque alguém resolve dar o passo errado e estraga tudo o que está em volta. Dá merda e isso é fato.

- É tentar Lígia e é disso que você tem tanto medo. De falhar e não sou eu quem vai te meter um dedo no nariz. Não tem batalha aqui será que você não vê?

- Você conhece esse meu estrago... Tem sempre uma força aqui e outra ali e ainda assim minha crueldade seria maior do que eu consigo conter. Essas histórias baratas de amor não têm happy end, e você sabe muito bem do que eu estou falando...

- Que porra é essa de história barata? Lá vem você novamente. É um estar aqui todo dia, não tem prova maior de que essa agonia não é agonia, não complica e nem tenta botar dor onde não tem!

- Quem desistiria primeiro?

- Pára...

- Quem desistiria primeiro?

- Você sabe o que pode acontecer não sabe?

- Sei.

- E você quer mesmo um fim?

- Quero.

Ele pulou.


11:41 AM -

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