- Já disse, sou inocente. - Sim, garoto. É o que todos dizem. - Machucaram meu joelho. - É o que todos dizem também.
O menino abaixou a cabeça enquanto o homem da jaqueta cinza o observava. Já tinha visto outros garotos como aquele e sabia exatamente o que um pedacinho de gente como aquele era capaz de fazer.
- E então, vai falar ou não hein, seu putinho? - Falar o quê? Eu não fiz nada! - E a menina? - Eu juro que não tive nada com isso... O senhor precisa acreditar em mim... - Que senhor o quê, garoto! Eu quero é saber o que você fez com o resto da menina - Resto? E eu vou saber? Eu estava lá com os outros garotos e não tinha menina alguma! - Sim, sim... E esse arranhão aí no seu braço? Vai dizer que foram os outros garotos também? - Olha, eu não sei que arranhão é esse. Pode ter sido durante o jogo...
O homem levantou e tirou o lenço do bolso da calça. Passou-o pela testa e pensou mesmo em desistir daquilo tudo. Poderiam mandar outro cara em seu lugar para que terminasse o serviço. Devia ter uns treze anos aquele pobre garoto. Um dia quente desse e ele ali tentando espremer um putinho que estava preste a se mijar todo. E não era que às vezes achava mesmo que ele era inocente? Pensamentozinho ordinário aquele. Isso só dificultaria as coisas. Luiza era o nome das duas. A dele iria fazer sete na semana que vem. A outra tinha onze. Eram bonitas, as duas. Poderiam ter sido irmãs, ele ainda resmungou sozinho. Assustado com tal pensamento. Olhou de novo para aquele garoto franzino, com o braço arranhado, os joelhos fodidos e pensou na tal mochila. O menino tinha olhos assustados. A mochila. Quem sabe mesmo fosse inocente. A mochila. Um marmanjo sim poderia ter feito aquilo com a menina. A mochila. Uma mãozinha sem unhas. A mochila. Uma fotografia no álbum de família. A mochila. Lindas Luizas. E suas perninhas. E suas calcinhas. A mochila. O cheiro fresco das meninas. Perninhas abertas-bailarinas. Galopando em colos de família. A mochila. A seis metros do gatilho. A estourar os miolos de passarinhos. Na mira dos pais de família. Pela tranqüilidade clandestina do livre acesso aos parques de diversão.