O copo na medida incerta. Borda bêbada tropeçando no lábio que não pára de mexer. Para falar merda, cem pares de ouvidos atrás da porta que não bate nem fecha, líquida parede desconexa nesse discurso com pobres rimas, peles finas, ácidas retinas, grossa saliva desfilando a gramática porca, arrebitada, entre novos livros, tricôs metidos, homenzinhos trovadores. Eis os novos pensadores no remendo das frases feitas, jantares requentados sobre as mesas das salas fechadas, intransitáveis. Os corredores estreitos para o povo que mendiga olhares. Os clássicos desfeitos pela sabedoria de uma safra de gente que se agita, que quer ser na fantasia alguém que se orgulha das telas inquietas hipnotizando gentes cretinas. Não são diferentes das loucas que aqui habitaram um dia. Em suas gaiolas enfeitadas, cacarejam tristes travestidas de felicidade. Ao contrário daqui, estão enfermas e não sabem. Tomam grandes doses de mediocridade. E batem na porta todos os dias. Querem ser internadas. Abrigadas. Disputadas. Coroadas. Como num conto-de-fadas. Não temos mais vagas. Da porta para dentro é tráfego certo, regras na cara. Aqui ninguém apunhala pelas costas. Aqui já foi Constantinopla. E pouco importa a casta, a procedência. Falamos de indecência. De culpa. Das perdas. Somos sim esquizofrênicas. Somos uma, duzentas. E temos um batalhão de gente com força nas pernas, na língua musculosa. Na bagagem teórica da práxis. Também falamos bobagens. E vestimos os fantasmas. É para isso que servem os quartos-fortes, as estantes de pernas bambas, a sangra. É verdade. O mundo às vezes é linguagem. O mundo é cada no cubículo que nos cabe. Algumas de nós quase nunca saem.