Nessa manhã ninguém dorme. Nem quando chegam as visitas. Nessa manhã tudo some. Mesmo quando as mães estão nas coxias. Quem dera pudessem ver seus niños assim pintados, pequenos palhaços de costura mal feita, estreitos na retina cotidiana que tudo pede tão direito, sem defeito. Úteros prolixos. São crianças tortas. Ninguém se importa. Alguém contou essa história. De crianças semimortas. Repito: são crianças tortas. Na tela do grande artista. Que duvida de certas anomalias. Na remenda da genética arredia, o pintor se assustaria. Se visse com seus olhos os buracos no lugar das narinas. Braços sem geometria. Arte que engana a fantasia. Crânios gigantescos. São grotescos. Esses seus meninos. Que pediram alforria. Foram parar na casa de outras tias. E não recebem visitas. Quase nunca. Mas diga, senhor pintor, quem consegue ver tanta bagunça? Troca-troca de recusas, orelhas avulsas, que criança dizem, é para ter só beleza. Quem é que consegue ver clareza nesse emaranhado de tristeza? Esses meninos daqui não têm paredes. Nem servem de enfeites. Os meninos de lá são quase felizes. Porque não entendem o que dizem as mudas tintas. Os daqui, caro senhor, só brincam de juntar as peças. Não aceitam promessas. Enquanto algumas mães esperam nas coxias. E estão sozinhas. Infelizes como suas crias.